E quando pediram um litro de água para chegar ao outro lado debaixo de sol escaldante, ofereci não só a água mas também café acabadinho de fazer, "já agora comam qualquer coisa". É falta de tempo, o bote já está à espera, então o problema fica resolvido com um pouco de comida num tupware para a viagem.
Há gente em monte para arrastar o bote até terra, não faz mal, há sempre mais um braço, talvez a minha força não faça mover um único centimetro mas empurro com toda a força que consigo.
De todos os meus principios (alguns muito parvos até para qualquer biólogo), como conservacionista não ouso apanhar peixe abaixo do tamanho minimo de captura (TMC), os tais jaquinzinhos para os alfacinhas e melon no puro crioulo mas engoli o meu principio ( não tão parvo assim) e decidi ajudar. Na azáfama vi que faltava gente para segurar as redes, corri para a poça, chamei a minha colega e apanhamos melon para um mês, entre "tocal pal pode entra na rede" confesso que os ainda mais pequeninos frouxava a rede para os deixar passar sem que eles percebessem. Mais apanhei muitos, ouvi-os dizer várias vezes "Patricia tu não és filha de pescador" por causa do meu mau jeito a cercá-los para não os deixar fugir. Não sou mesmo mas apanhei mais peixe do que alguma vez tinha apanhado e completamente contra o meu principiio de NUNCA apanhar peixes abaixo do TMC.
Ouvi histórias de pesca, de naufrágios, da familia que não conheço mas que de tanto contarem parecia que eu mesma fazia parte da história. muitas vezes estórias, as chamadas estórias de pescador, aquelas em que apanhou um Djeu maior que o bote ou que começava com um "naquele tempo é que era..."
Vibrei quando vi botes a caminho da nossa praia deserta, ávida por novas histórias/estórias e companhia e corri para arrastar, para ver os peixes apanhados na pesca. Torcia o nariz para o TMC e pensava para com os meus botões que para servir de isco é preciso peixes pequenos e nisso eu não podia fazer nada, é preciso alimentar familias antes de pensar em conservar (ainda penso que é possivel conservar e alimentar famílias mas com calma lá chegaremos).
Ofereci o meu saco cama, um fogão, pratos, talheres com um sorriso e um pode devolver quando for embora quando um deles se esqueceu.
Não me estou a recordar dos meus bem-feitos, porque volto a faze-los se preciso for e acredito que quando prestamos um favor não ficamos à espera da retribuição.
Esperava apenas melhor tratamento, que cuidassem das minhas coisas como tantas vezes cuidei das deles. Que vissem em mim (em nós) a mesma familia que eu vi neles durante estes 4 meses.
Mas quando deixei metade das minhas coisas em Santa Luzia porque não conseguia levar tudo para o Ilhéu Raso não pensaram duas vezes e roubaram, roubaram a comida que tantas vezes eu ofereci sem que pedissem (...)*e a minha câmera fotográfica.
Sinto-me triste por nunca me terem considerado colega, e não terem dado valor ao meu trabalho como dei aos deles. Eu conheço gente que conhece gente...:(
* só falo daquilo que me tiraram apesar de não ter sido a única vitima nisto, não quero envolver mais ninguém neste texto!
[gostaria de publicar as fotos mas infelizmente e como agora sabem roubaram as minhas recordações fotográficas :(]
1 comment:
Oh fogo :S
Há pessoas e pessoas, sem dúvidas...
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